domingo, 29 de junho de 2014

A Procura do Amor



Esta tarde assisti um filme muito interessante, "A Procura do Amor" com Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini, o Tony de "Família Soprano", em seu penúltimo papel antes de morrer.
O filme é muito interessante, Julia interpreta uma massagista divorciada, apavorada com a ida de sua filha à universidade e a possibilidade de ficar sozinha. Ela conhece Albert, um pouco gordo e careca demais para seu gosto, mas os dois têm senso de humor e começam a sair.
O filme mostra que apesar das diferenças, havendo química e principalmente bom humor, os defeitos e a aparência estética, são deixadas de lado.
O filme é suave, gostoso de assistir e sem muitas ilusões.
Pensando nesse filme, me lembro de uma mulher que conversei sexta-feira.
Ela me disse que tinha 40 anos, não tinha relacionamento com ninguém, pois homens não prestam e não existem disponíveis.
Eu olhei para ela e respondi:
Homens existem sim, porém vocês querem o impossível:
Que sejam gentis, que tenham carro, que se vistam bem, que sejam atléticos, que seja simpáticos, etc…
Isto não existe.
Temos que admitir que nós mesmos somos cheias de defeitos e exigimos deles o que mal temos em nós mesmas.
Não estou sendo machista, somente realista.
O que me atrai é a honestidade, a retidão de caráter, a postura de vida e sobretudo ter fé e bom humor.
O resto é se adaptar e viver.
O filme é isso, olhar quem está do teu lado, pois às vezes você poderá estar com o grande amor da tua vida e reclama que está sozinha(o)…

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Pelas ruas de Lyon...

Pelas ruas de Lyon te levarei.
Em uma noite de Outono, quando o Verão ainda se faz presente em ondas de calor e noites amenas.
Pelas ruas de Lyon te mostrarei.
Os restaurantes acolhedores e coloridos, perfumados com temperos e onde se encontram mesinhas com vasos de flores e cortinas nas janelas.
Pela noite de Lyon te guiarei.
Onde as ruas se estreitam e sombras dançam em busca da escuridão.
Onde casais se beijam.
Onde selam amores.
Pelas ruas de Lyon.

domingo, 1 de junho de 2014

Cantina

Um casal apaixonado celebra a alegria de estarem juntos.
Celebram o amor.
Os olhos brilhantes, os sorrisos maliciosos, as mãos entrelaçadas.
Se olham, se desejam, estão felizes.

O dono da cantina, bem idoso, anda devagar.
Se coloca ao lado do casal, em sua mesa desde que abriu a cantina.

Ele vira a cabeça, olha para a mulher.
Sorri.
Pensaria ele que já havia sido feliz assim?

Passam semanas, estações, acontecimentos, tempo…

Anos se passam e o casal retorna a cantina.

Pedem a mesma mesa.
Escolhem o mesmo pedido.
O mesmo vinho.

Mas não são os mesmos.
Seus olhares não tem o brilho, os sorrisos estão contidos, as mãos não se tocam.

Contam estórias, relembram momentos, revelam segredos.
A maturidade embala a conversa serena, não querem se magoar.

A mulher olha ao lado e sente a falta do dono, sempre sentado na mesa ao lado.
Ao indagar a gerente, fica sabendo que ele faleceu.

Ela se comove e retorna o olhar para seu companheiro.
Seus olhos estão úmidos, está triste.
Não verá mais aquele senhor simpático de olhar maroto.

A vida fechou mais um ciclo.
A vida não será como antes.

Ele não está mais aqui.
Mas a cantina está cheia.
As pessoas estão felizes.
Celebram a vida.
A luz e a energia aquece os corações.

Que faz sorrir as pessoas,
Que faz alegrar o momento.
Que acaricia o casal.
Que acredita que um um ciclo se fechou.

E outro começará novamente...

Fila

Na fila.
Em forma, na linha, enfileirada para uma mostra de arte, dessas que chegam na capital por pouco tempo
Imperdível.
Gratuita.
Muita gente e uma atrás da outra.
Estou sozinha, na ponta do zigzag interminável.
Me lembro de uma serpente que se enrosca no cinza da cidade e não se move.
Faço parte desta espera.
Olho em torno para passar o tempo.
Um pastor prega a palavra do Evangelho.
Rouco de tanto gritar para atrair o público.
Em vão.
Movimenta-se, gesticula sem sucesso.
Os únicos que o percebem estão rindo, zombando.
E o pastor continua pregando no vazio.
Na minha frente uma família.
Mãe e filha roqueiras.
Percings, tatoos e roupas pretas.
Pai e filho de jeans e camisa.
A fila se move.
A mãe e o pai falam mal de um parente.
O pai quer comer um abacaxi de um ambulante.
Ao lado…vejo cinco rapazes fazendo o intervalo do almoço.
Olham as bundas das garotas que passam.
Comentam, dão risadas.
A fila se move.
Tem rico, tem pobre, tem chique, tem cafona.
Todos tem o mesmo objetivo: ver a mostra, ver arte.
O pai atende o celular que toca.
Discute em voz alta.
Toda a fila escuta.
Ele berra, conta coisas pessoais, da vida, do trabalho.
Não gosto, não me interessa.
Não tenho paciência.
Olho para o lado e me distraio.
Vendo lixo no chão.
Papéis, garrafas PET, sacos e sacolas.
Pessoas sem educação comem e bebem.
Jogam no chão e emporcalham a cidade.
Algumas pessoas sentam no chão.
Sujo.
Homem vende água, ganha o dobro.
Somos enganados, mas aceitamos, não podemos sair da fila.
Os dois filhos sentam no chão.
Sujo.
Os dois são gordos.
Os dois estão cansados.
Cheiro de cigarro no ar.
Detesto.
Ao lado a fila dobrada.
Duas mulheres discutem.
O que fazer da vida.
Carreira, estágio, incertezas.
Fala muito, a voz rouca mostra que a garganta está cansada.
Se queixa do ar seco.
Um pouco à frente um casal de namorados.
Ele a fotografa.
Ela faz pose.
Apaixonado, ele escolhe o melhor ângulo.
Ela ri.
Ele guarda o momento no celular.
Na outra parte da fila a moça fala que mora em uma república.
Os pais aprovaram a decisão de vir para a capital.
Moça do interior.
Desenhista, desenha e conversa.
Conversa e desenha.
Desenha e sorri.
Concluo que desenhar traz felicidade.
Enquanto isso, outro homem fala com um cliente.
Pede desconto.
Consegue.
Não consegue andar, a fila.
A moça pergunta para o segurança qual o horário mais tranquilo.
Ele se acha muito importante.
Responde com um ar distante.
O pai desliga o celular.
Abraça o filho.
A moça para de desenhar e me vê escrevendo.
Deve pensar que escrever traz felicidade.
A fila anda finalmente...